sexta-feira, julho 17, 2009
António Guterres
quarta-feira, julho 15, 2009
Conversa de surdos ou histórias mal "record-adas" (de gravadas nas memórias)
Porque é sempre bom saber das posições de qual a cada momento, reproduzo abaixo o texto do padre Manuel Carlos n' A União:
"Ficou-me registada na memória a defesa que Mota Amaral fez – no início da década de 90 – da manutenção do controlo aéreo do Atlântico na ilha de Stª Maria, mais conhecido por NAV II.
Antecedendo em meses uma “Presidência Aberta” do então Presidente da República, Mário Soares, começaram a surgir notícias dando conta da pretensão de transferir esse controlo para Lisboa e, no próprio aeroporto de Stª Maria, o Presidente da República patrocinou uma vinda do então Ministro dos Transportes (PSD) para justificar a transferência do NAV II. Enquanto o Ministro se defendia com a necessária modernização tecnológica das comunicações e os sobrecustos da dita manutenção em Stª Maria, Mário Soares aproveitava para estimular a anuência por parte da população mariense com a necessidade de compensações pela perda que ia acontecer.
E o então Presidente da Câmara de Vila do Porto foi logo arreando o jogo, pedindo investimentos na área do turismo…
Mas Mota Amaral ainda não tinha falado e, com inteligência, saiu em defesa intransigente dos Açores: “nós necessitamos e queremos emprego qualificado em cada uma das nossas ilhas; se custa mais esse investimento em Stª Maria nós estamos prontos a pagar a diferença, mas não nos retirem do mapa”.
A discussão morreu ali. O presidente da República entendeu que o vento não era favorável e interrompeu o briefing, remetendo para reuniões em Lisboa a continuação da discussão, “longe dos ouvidos dos jornalistas e da população” mariense.
Mais tarde, explicou-me um deputado açoriano à Assembleia da República (do PS) que o argumento que estava em cima da mesa por parte de Lisboa era totalmente outro (e insultuoso), pois algumas importantes cabeças de Lisboa perguntavam “e se ‘aquilo’ se torna independente?”.
Estas recordações vieram a propósito do excelente conteúdo do artigo de opinião que este jornal publicou no passado sábado da autoria de Óscar Malheiro e que rebate, ponto por ponto, toda a argumentação falaciosa que tem sido usada para tentar defender a total concentração dos aviões da SATA em S. Miguel.
Não vou repetir a fundamentada argumentação de Óscar Malheiro, até porque não é fácil de ser sintetizada.
Estamos, de facto, perante uma “conversa de surdos”, porque o que se quer é mesmo concentrar tudo em S. Miguel.
A decisão há muito que está tomada e a ser executada passo a passo. Enquanto essa decisão afectou outras ilhas, descansamos porque ainda não chegara a nossa vez. Mas chegou, e não há terceirenses, com poder e capacidade, a defender o lugar da sua ilha no ‘desenvolvimento harmónico’ dos Açores.
Não se trata de bairrismo nem de birra. Trata-se apenas da pretensão legítima de não sermos preteridos ou arredados para a periferia do mapa nos Açores. Os impostos que os terceirenses pagam são iguais aos dos restantes açorianos, então por que razão as decisões políticas hão-de beneficiar apenas uma ilha?